Posse dos novos ACS

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

 O custo do mau uso da automonitorização domiciliar da glicemia


Coordenador do Grupo de Educação e Controle do Diabetes do
Hospital do Rim e Hipertensão da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Médico do Centro de Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
A automonitorização domiciliar é um método diagnóstico de extrema importância na avaliação do controle glicêmico dos portadores de diabetes. Entretanto, como qualquer outro recurso de tecnologia médica, precisa ser utilizado de forma racional para que possa produzir seus efeitos benéficos a um custo médica e socialmente aceitável. Explicando melhor: hoje em dia, é grande o número de portadores de diabetes que dispõem do monitor de glicemia e das respectivas tiras reagentes, seja através de aquisição própria, seja por fornecimento gratuito pelos órgãos oficiais de saúde.  Apesar disso, a quase totalidade dos pacientes beneficiados com este recurso não o utiliza de forma adequada.
E qual seria essa forma adequada? Vamos tomar como exemplo os pacientes atendidos pelo Grupo de Educação e Controle do Diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da UNIFESP: cerca de 60% deles recebem gratuitamente do SUS o monitor de glicemia e as tiras reagentes mas, no entanto, não recebem nenhuma informação sobre a forma e a frequência adequadas para a realização dos testes. Como resultado, quase todos realizam testes quase que diários da glicemia de jejum, mas não das glicemias pós-prandiais de 2 horas, que permitiriam uma análise mais precisa do perfil glicêmico diário de cada paciente, o que seria fundamental para orientar melhor o médico sobre as eventuais necessidades de correção da conduta terapêutica. Pior, ainda, é o fato de que os resultados obtidos quase nunca são avaliados devidamente pelo médico assistente, tornando ineficaz esse recurso tão importante para a correta avaliação do controle glicêmico.
A automonitorização da glicemia no paciente portador de diabetes tipo 2 tem sido criticada em alguns trabalhos da literatura internacional em função de apresentar um custo relativamente alto em relação aos benefícios que esta técnica pode proporcionar. Pela forma atual e equivocada com que esse recurso vem sendo utilizado, não tenho dúvidas de que os custos não compensam os benefícios obtidos, não porque o recurso em si seja caro, mas porque não consegue produzir os benefícios possíveis em função da maneira equivocada como ele é utilizado.

Como orientação geral, a frequência de testes no paciente com diabetes tipo 2 deve ser determinada por sua condição clínica num determinado momento. Nas situações agudas, como por exemplo, no início do tratamento, nos ajustes de dose ou mudança de medicação, nas situações de estresse clínico ou cirúrgico, na ocorrência de episódios frequentes de hipoglicemia e em outras situações que exigem maior vigilância, recomenda-se a realização de 6 testes por dia (nas situações de jejum e de 2 horas após cada refeição) para se determinar o perfil glicêmico do paciente. Por outro lado, nas fases de estabilização do controle glicêmico, são necessários apenas 2 ou 3 testes por semana, em diferentes horários do dia [1].
Em resumo: o custo do mau uso da automonitorização domiciliar decorre da utilização inadequada e irracional desse importante recurso. Esse problema reveste-se de importância crucial quando consideramos que recursos públicos vêm sendo desperdiçados por absoluta falta de informação de médicos e pacientes quanto à sua correta utilização.

Nenhum comentário:

Postar um comentário