Coordenador do Grupo de Educação e Controle do Diabetes do
Hospital do Rim e Hipertensão da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Médico do Centro de Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
A automonitorização domiciliar é um
método diagnóstico de extrema importância na avaliação do controle
glicêmico dos portadores de diabetes. Entretanto, como qualquer outro
recurso de tecnologia médica, precisa ser utilizado de forma racional
para que possa produzir seus efeitos benéficos a um custo médica e
socialmente aceitável. Explicando melhor: hoje em dia, é grande o número
de portadores de diabetes que dispõem do monitor de glicemia e das
respectivas tiras reagentes, seja através de aquisição própria, seja por
fornecimento gratuito pelos órgãos oficiais de saúde. Apesar disso, a
quase totalidade dos pacientes beneficiados com este recurso não o
utiliza de forma adequada.
E qual seria essa forma adequada? Vamos
tomar como exemplo os pacientes atendidos pelo Grupo de Educação e
Controle do Diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da UNIFESP: cerca
de 60% deles recebem gratuitamente do SUS o monitor de glicemia e as
tiras reagentes mas, no entanto, não recebem nenhuma informação sobre a
forma e a frequência adequadas para a realização dos testes. Como
resultado, quase todos realizam testes quase que diários da glicemia de
jejum, mas não das glicemias pós-prandiais de 2 horas, que permitiriam
uma análise mais precisa do perfil glicêmico diário de cada paciente, o
que seria fundamental para orientar melhor o médico sobre as eventuais
necessidades de correção da conduta terapêutica. Pior, ainda, é o fato
de que os resultados obtidos quase nunca são avaliados devidamente pelo
médico assistente, tornando ineficaz esse recurso tão importante para a
correta avaliação do controle glicêmico.
A automonitorização da glicemia no
paciente portador de diabetes tipo 2 tem sido criticada em alguns
trabalhos da literatura internacional em função de apresentar um custo
relativamente alto em relação aos benefícios que esta técnica pode
proporcionar. Pela forma atual e equivocada com que esse recurso vem
sendo utilizado, não tenho dúvidas de que os custos não compensam os
benefícios obtidos, não porque o recurso em si seja caro, mas porque não
consegue produzir os benefícios possíveis em função da maneira
equivocada como ele é utilizado.
Como orientação geral, a frequência de
testes no paciente com diabetes tipo 2 deve ser determinada por sua
condição clínica num determinado momento. Nas situações agudas, como por
exemplo, no início do tratamento, nos ajustes de dose ou mudança de
medicação, nas situações de estresse clínico ou cirúrgico, na ocorrência
de episódios frequentes de hipoglicemia e em outras situações que
exigem maior vigilância, recomenda-se a realização de 6 testes por dia
(nas situações de jejum e de 2 horas após cada refeição) para se
determinar o perfil glicêmico do paciente. Por outro lado, nas fases de
estabilização do controle glicêmico, são necessários apenas 2 ou 3
testes por semana, em diferentes horários do dia [1].
Em resumo: o custo do mau uso da
automonitorização domiciliar decorre da utilização inadequada e
irracional desse importante recurso. Esse problema reveste-se de
importância crucial quando consideramos que recursos públicos vêm sendo
desperdiçados por absoluta falta de informação de médicos e pacientes
quanto à sua correta utilização.
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